DOENÇAS CRÔNICAS E FATORES DE RISCO
A partir de fins do século XIX e inícios do século passado (século XX), a humanidade passou por grandes mudanças, pelo menos no nosso mundo ocidental.
Houve uma grande migração de populações entre países com uma crescente migração do campo para a cidade em muitos países como o nosso.
Isto, do ponto de vista da saúde, trouxe muitas consequências. Por ora, vamos destacar duas destas consequências que têm causado, até hoje, cada vez mais, impacto sobre a nossa saúde.
Com a chegada desses trabalhadores do campo à cidade, o setor de serviços começou a se desenvolver muito. O comércio se ampliou, bancos, escritórios de todos os tipos surgiram, empregando grande parte dessa mão de obra. Tudo isso trouxe uma consequência relevante: conforme as cidades cresciam, as pessoas começaram a se movimentar cada vez menos. Os mais ricos começaram a comprar seus carros; para os menos aquinhoados, surgiram os transportes coletivos.
Como consequência destas facilidades de locomoção, o homem deixou, e cada vez mais deixa, de se movimentar.
Podemos dizer que hoje temos o homem – lato sensu – parado. Quase o dia todo estamos parados em algum lugar: sentados (ou parados) à mesa tomando as nossas refeições, no carro, no taxi, no metrô, no ônibus, no escritório (ou em casa) em frente de um computador ou da televisão, nas fábricas, nas salas de aula, dirigindo veículos, assistindo aulas, assistindo a partidas esportivas, nos cinemas, nos bancos, nas lojas, nos caixas dos supermercados…
Quem não conhece aquele cidadão que, para ir ao bar da esquina, tira o carro da garagem para percorrer meio quarteirão? Ou aquele outro que é capaz de ficar meia hora dando voltas no quarteirão à espera de uma vaga para estacionar bem em frente ao banco?
A segunda consequência dessas mudanças do perfil da sociedade é que a alimentação das pessoas também começou a se modificar.
À medida que as pessoas começaram, cada vez mais, deixar suas casas para trabalhar, principalmente as mulheres, começou a faltar tempo para cozinhar. É aí que a indústria alimentícia começa a se desenvolver muito depressa. Cada vez mais as pessoas acham mais simples comprar comida pronta ou semipronta nos supermercados, mesmo aqueles que poderiam preparar suas refeições em casa. Hoje em dia exige-se comodidade e menos perda de tempo, isto porque, outra característica da nossa sociedade atual é a pressa. Se eu posso encomendar uma pizza deliciosa ou comprar uma lasanha semipronta e apenas aquecê-la no micro-ondas por poucos minutos e saboreá-la, por que vou me preocupar em preparar uma refeição em casa? Fazendo assim, a cozinha para arrumar diminui e tenho mais tempo para ficar digitando no celular, jogando ou procurando coisas na internet.
Simples, não? A vida que pedi a Deus!
Perfeito.
Isso é o que tem sido chamado de “transição nutricional”. Essa transição é caracterizada por: baixo consumo de frutas, vegetais, grãos, cereais e legumes e alto consumo de alimentos ricos em gorduras saturadas (que aumentam o colesterol), açúcar e sal, tudo isto presente em carnes, leite, cereais refinados e muito mais nos alimentos processados, sem falar nos inumeráveis e, em grande parte, desconhecidos aditivos químicos.
Mas, antes de examinarmos melhor as consequências dessa transição, talvez interesse saber que as pessoas, nesse tempo que vai do início do século passado ao nosso, passaram a viver muito mais. Assim, em 1.900 uma pessoa podia esperar viver em média 49 anos; em 2.000, essa esperança de vida atingiu 79 anos. Um aumento muito significativo.
Esse aumento da duração de vida traz, por sua vez, novos problemas: cada vez mais as doenças crônicas, pouco frequentes no passado, aumentam, atingindo patamares de verdadeiras epidemias.
As doenças crônicas mais importantes para nós são: doenças cardiovasculares (hipertensão arterial, infarto, acidentes vasculares cerebrais (AVC), arteriosclerose), cânceres, doenças respiratórias crônicas, principalmente os enfisemas pulmonares, diabetes tipo II.
Essas doenças são responsáveis pela grande mortalidade das pessoas. No entanto, pelo desenvolvimento tecnológico e da indústria farmacêutica, as pessoas vivem mais; entretanto, a qualidade de vida se deteriora.
Tomemos como exemplo o caso da diabetes. Essa doença costuma danificar os vasos sanguíneos, os rins, os olhos, o coração e o cérebro conforme o tempo passa. A qualidade de vida da pessoa vai caindo, à medida que as lesões nestes órgãos vão aparecendo, embora ela possa viver muito tempo, em função da tecnologia colocada à sua disposição.
De um modo geral, as doenças crônicas alteram a qualidade de vida do paciente, causam mortes prematuras e enormes gastos com medicamentos, internações, exames e outros. É comum o caso daquele aposentado que não ganha para comprar os medicamentos e a família acaba se endividando por isso.
Mas, após traçarmos um quadro um tanto sombrio da situação, vamos às boas notícias.
Desde há muito tempo a Organização Mundial da Saúde (OMS) é enfática ao anunciar: “A ameaça das doenças crônicas pode ser superada usando-se conhecimentos já existentes”. Isto porque as principais causas das doenças crônicas são conhecidas e se esses fatores de risco forem eliminados, pelo menos 80% de todas as doenças cardíacas, acidentes cerebrovasculares e diabetes tipo II e mais de 40% dos casos de cânceres seriam prevenidos, estima a OMS.
Vejamos: a diabetes está intimamente ligada à obesidade. Alguns investigadores dizem que uma pessoa obesa, após 20 anos nessa condição, tem quase 100% de chance de se tornar diabética. Além disso, a obesidade aumenta o risco de câncer na mama, entre outros, como as artroses (pelo sobrepeso que as articulações têm de sustentar). O sobrepeso aumenta o risco de hipertensão arterial, de calcificação e endurecimento das artérias. A obesidade costuma levar à baixa autoestima.
A OMS aponta para os dois principais fatores de risco das doenças crônicas: alimentação não saudável e inatividade física. E isto, é claro, pode ser mudado. Em relação à mudança de uma alimentação não saudável em saudável propomos a dieta de transição a ser vista alhures. A respeito da inatividade física, uma ex-atriz e médica alemã, Marianne Koch, se pergunta: as gerações futuras terão cada vez mais um traseiro maior e umas pernas cada vez mais finas? Dizemos: será que isto já não está acontecendo? A figura da pessoa barriguda, com traseiro enorme e pernas finas por acaso lhe é estranha? Para muitos, não.
Outros fatores de risco são também importantes. O tabaco é o principal fator de risco dos enfisemas e cânceres do pulmão. Também é fator de risco para uma infinidade de outros tipos de câncer. A nicotina é conhecida por alterar os vasos sanguíneos e debilitar o sistema imunológico, abrindo as portas do organismo para o desenvolvimento de cânceres e infecções de todo tipo.
Mas isso nem sempre foi assim. Em meados do século passado é que surgiram os primeiros estudos estabelecendo a relação entre o hábito de fumar e o câncer do pulmão. As pessoas deram risada dos cientistas e daqueles que diziam isto. “Que absurdo!”, diziam. “Um hábito tão bacana”! “Dá status!”. Mas as evidências foram se avolumando e hoje somente os mais desinformados acreditam que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
O mesmo ocorre com a alimentação hoje em dia. Muitas pessoas, incluindo médicos e outros profissionais da saúde, não acreditam que existe uma relação entre aquilo que comemos e as doenças que temos. Dão risadas. Aqueles que nisto acreditam, frequentemente são motivos de chacotas entre os amigos ou mesmo no meio familiar. Mas as evidências não deixam dúvidas. Como no caso do tabaco, é cada vez maior o número daqueles que veem essa relação. O número dos desinformados cai rapidamente.
Sempre que se toca no assunto tabaco em saúde, invariavelmente existe alguém que diz: “Será que o hábito de fumar tem mesmo relação com a saúde? Meu avô fumava adoidado e morreu com 99 anos na maior tranquilidade”.
Ouvi até uma anedota ilustrativa:
Um pai zeloso queria mostrar ao filho os malefícios do cigarro e levou o garoto a uma comunidade onde a maioria das pessoas tinha idades avançadas e gozava de boa saúde.
Chegando lá, aproximaram-se de um velhinho de boa aparência e, depois de algumas palavras, o pai perguntou:
-Quantos anos o senhor tem?
-Tenho 80.
-O senhor fuma?
-De modo algum. Nunca fumei. Cigarro faz mal à saúde.
O pai, satisfeito, afastou-se e disse ao filho:
-Está vendo? É isso aí…
Aproximaram-se de outro velhinho de bom aspecto e o pai lhe fez as mesmas perguntas.
-Tenho 92 anos, disse o homem. De modo algum fumo. Um primo meu que fumava morreu de câncer.
O pai ouviu aquilo e sentiu-se mais satisfeito ainda. Aproximaram-se de outro velhinho, com aspecto ainda melhor que os anteriores.
-Quantos anos o senhor tem? – perguntou o pai.
-Tenho 120 anos, meu amigo.
-Por acaso o senhor fuma?
O homem ficou meio constrangido, fez um silêncio, e por fim disse:
-Olha, vou confessar pra vocês. Fumo sim, desde os 13 anos, três maços por dia. Mas olha, garanto que se eu não fumasse, teria hoje no mínimo 150 anos!
Existem histórias reais como estas? Sim, todos nós conhecemos casos, não só de fumantes como também em relação a outros fatores de risco. Tive um tio que quase diariamente comia carnes com muita gordura durante a vida toda. Morreu de velhice, gozando boa saúde, com mais de 90 anos.
O fato é que a própria OMS reconhece que existem pessoas com muitos fatores de risco de doenças crônicas e que mesmo assim têm uma vida longa e saudável. O contrário também ocorre: pessoas com alimentação saudável, que se exercitam, podem desenvolver uma doença crônica e morrerem prematuramente.
É por isso que não é prudente tirarmos conclusões e generalizá-las a partir de um ou de poucos casos que conhecemos. Eles somente nos dão uma pista daquilo que devemos estudar em uma perspectiva mais ampla. Isto é feito pelo estudo de populações ou também chamados estudos epidemiológicos. Populações são estudadas durante muitos anos em relação a um determinado ou determinados fatores de risco e as informações obtidas são analisadas minuciosamente.
Para exemplificar, tomemos o exemplo do fator de risco representado pelo hábito de fumar. Uma população, em linhas gerais, é dividida em dois grupos: aqueles que fumam e aqueles que não fumam. Essa população é acompanhada por vários anos e, nesse tempo, as suas doenças são minuciosamente registradas. O resultado final permite ver que a incidência de câncer de pulmão e de outras doenças respiratórias é muito maior no grupo dos fumantes.
No caso da alimentação são feitos estudos populacionais parecidos, embora muitas vezes sejam mais difíceis de planejar e de analisar os resultados obtidos, pois muitas variáveis entram em jogo. No entanto, existem estudos bem conduzidos que não deixam dúvidas sobre a relação existente entre a alimentação atual e as doenças que temos. Existem muitos estudos mostrando o que aconteceu em comunidades fechadas onde a alimentação que conhecemos (alimentação rica em açúcar, farinhas brancas, refrigerantes e produtos industrializados e pobre em frutas, verduras, legumes) foi introduzida: houve uma deterioração do nível de saúde em pouco tempo e o surgimento das doenças citadas e que não existiam anteriormente em tais populações. Esses estudos não deixam dúvidas.
Como sabemos, as doenças têm origens nos nossos corpos mentais, emocionais e espirituais, também chamados corpos sutis. Como temos dito, a doença no corpo físico é o “fim da linha”. Quando a doença se manifesta no corpo físico é porque ela já existia nos corpos sutis relacionados acima. Daí porque, para abordarmos com propriedade as doenças, temos que investigar o que ocorre nesses corpos, ou seja, o que está escondido no nosso subconsciente.
Uma escritora espanhola, Rosa Montero, disse, em um de seus romances: “O verdadeiro poder está sempre na sombra”. Desenvolveremos esse tema proximamente.
O fato é que vivemos no mundo das aparências. As doenças, e entre elas as crônicas, são manifestações do que ocorre mais profundamente dentro de nós. Isto não quer dizer que o estilo de vida não tenha grande importância na saúde, como procuramos mostrar. O estilo de vida interage com o nosso interior.
Resumindo, se você quiser melhorar a saúde coma mais frutas, verduras, legumes, cereais integrais, frutas secas e se exercite. Se fuma ou bebe procure, no mínimo, diminuir tais hábitos.
É certo que a sua saúde vai melhorar.
Escrito por: NILTON TORNERO